A Associação dos Deficientes Visuais de Brusque foi estabelecida em 10 de junho de 2002. Sua criação originou-se da necessidade de um grupo de amigos com deficiência visual que, para receber formação em reabilitação e alcançar independência na locomoção, precisavam se deslocar para fora de Brusque. Essa lacuna evidenciou a necessidade de fundar uma instituição local para atender essa demanda, além de fortalecer sua voz por meio de um grupo coeso.
Com o apoio de pessoas com deficiência visual, amigos e familiares, a associação foi formalmente estabelecida, construindo sobre a base de amizades duradouras. As atividades começaram em uma sala cedida pela prefeitura de Brusque, onde ensinavam o método Braille e orientação/mobilidade. Com o tempo, a associação cresceu, oferecendo cursos, palestras e informações relevantes.
Para se manter, a associação dependia de receitas provenientes de eventos, doações e apoio institucional. Realizavam atividades culturais, passeios e festas de encerramento, participando também de eventos da secretaria de assistência social.
Após anos de esforço para manter um espaço próprio, a associação teve que encerrar suas atividades no local e trabalhar em parceria com instituições como o Sesc, utilizando diferentes espaços para suas atividades. Com a criação da coordenadoria dos direitos da Pessoa com deficiência em 2013, retomaram colaborações com a Prefeitura Municipal.
A ADVB sempre foi atuante em conselhos de direitos e assistência em níveis municipal, estadual e federal. Está afiliada a diversas organizações relacionadas à deficiência visual e desportos adaptados. Participou dos jogos abertos para pessoas com deficiência em Santa Catarina, ganhando destaque em esportes como xadrez adaptado.
A associação também se envolveu na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, com parcerias como o Sesi. Contribuiu para a criação de leis, como o Estatuto dos Direitos das Pessoas com Deficiência e a lei que instituiu o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Em 2020, devido à pandemia, as atividades presenciais foram interrompidas, mas a associação continua a luta pelos direitos das pessoas com deficiência visual, ocupando posições importantes em espaços de representação. Permanecem firmes na missão, pois enquanto houver necessidade, a associação estará presente, seguindo o lema "um por todos e todos por um".
A Associação dos deficientes visuais de Brusque e Região ADVB tem como missão:
Buscar aprimorar a qualidade de vida das pessoas que enfrentam cegueira ou limitações visuais por meio da implementação de diversas iniciativas que abarcam áreas como esporte, educação, saúde, assistência social, cultura e direitos humanos.
Nesse contexto, a ADVB visa a aplicação coordenada de políticas públicas que possam servir de suporte abrangente para indivíduos portadores de deficiência visual. Através dessa abordagem, o propósito primordial é cultivar a autonomia e a independência desses indivíduos com deficiência visual.
Através das mencionadas políticas, viabiliza-se a inclusão dessas pessoas em âmbitos como esportes, educação e saúde, por meio de programas destinados a habilitação, reabilitação e apoio social, especialmente voltados a esse grupo prioritário.
No âmbito cultural, a associação busca oferecer apresentações acessíveis, enriquecidas com descrições auditivas, e nos direitos humanos, seu compromisso reside em reconhecer a condição das pessoas com deficiência visual e promover o acesso comunicativo.
Além disso, a ADVB empenha-se em estender sua atuação à arquitetura e às atitudes sociais, almejando a inclusão equitativa da pessoa com deficiência em todas as esferas da sociedade, por meio de múltiplas ações voltadas para a acessibilidade. A inserção desses indivíduos no mercado de trabalho é também um objetivo, visando conferir-lhes dignidade e autonomia financeira.
Por fim, um dos propósitos centrais é preparar os cidadãos com deficiência visual, dotando-os do conhecimento sobre seus direitos e obrigações perante a sociedade. Isso se realiza por intermédio de uma diversidade de cursos e programas de formação contínua.
A origem da minha deficiência visual está ligada ao glaucoma congênito, uma condição que esteve presente desde o meu nascimento devido a fatores genéticos. O glaucoma congênito é uma das principais causas de cegueira em todo o mundo. Essa doença resulta no aumento da pressão ocular, o que causa danos irreversíveis ao nervo óptico. Infelizmente, devido a esses danos permanentes, ainda não existe uma forma de reverter a cegueira causada por essa doença.
Tive algumas dificuldades devido à falta de conhecimento das pessoas. Enfrentei discriminação, mas não registrei episódios desse tipo na escola, pois o bullying lá deixa marcas profundas. A sociedade ainda não está pronta para lidar com a crueldade e a ignorância, diferente do que experimentamos como os adultos. As experiências moldaram quem sou, e o preconceito na fase adulta é mais gerenciável. Recomendo fortemente evitar o bullying, pois causa danos duradouros e pode destruir vidas.
Quanto à minha percepção visual, um dos meus olhos não possui visão alguma, apenas luminosidade. Diferentemente do senso comum, a falta de visão não significa sempre ver preto ou branco; isso varia conforme cada pessoa. No meu caso, percebo luz e escuridão em um olho, mas não consigo identificar formas ou imagens, caracterizando a cegueira legal. Para exemplificar, imagine que seu olho está na palma da sua mão direita. Ao esticar o braço lateralmente e tentar enxergar com a palma da mão, não teria percepção visual. Isso representa uma cegueira total. Aqueles que percebem luz ou escuridão têm cegueira legal, sendo legalmente considerados cegos. Também existem pessoas com baixa visão, em vários graus. A classificação de pessoa com deficiência visual envolve visão inferior a 30% no melhor olho, ou cegueira legal ou total de um olho, com visão normal no outro. Uma nova legislação recente autoriza essa condição devido à perda de profundidade e percepção tridimensional ao enxergar apenas com um olho. Por exemplo, quem vê com apenas um olho não pode usar óculos 3D. Em resumo, minha percepção visual engloba luz e escuridão.
É um equívoco acreditar que as pessoas com deficiência visual possuem automaticamente tato e audição mais apurados. Na realidade, utilizamos mais esses sentidos para compreender nosso entorno, o que nos confere maior facilidade e atenção neles. Devido à ausência de visão, apoiamos nossos sentidos remanescentes para interagir com o mundo, incluindo tato, olfato, paladar, sensações térmicas, orientação espacial e audição. Precisamos direcionar uma atenção significativamente maior a esses sentidos em comparação com pessoas que percebem o mundo visualmente. Vale ressaltar que pessoas com deficiência visual não podem ter audição, olfato ou tato. Nesse contexto, como eles poderiam levar uma vida plena? É por isso que, em minha opinião, a afirmação de que nossos outros sentidos se desenvolvem automaticamente é um mito.
Sobre o uso do termo "cego" para pessoas com deficiência visual, não vejo objeções, desde que seja utilizado de maneira respeitosa e não pejorativa. Isso varia conforme a pessoa, por exemplo, alguém que ainda não aceitou sua deficiência pode se sentir ofendido. No entanto, para alguém que é cego, usar o termo não é discriminatório. É importante lembrar que, antes de qualquer deficiência, cada indivíduo é uma pessoa, então devemos usar termos como "Pessoa com deficiência visual", "Pessoa com deficiência auditiva", "Pessoa com deficiência intelectual", "Pessoa com deficiência física", já que devemos primeiro respeitar a pessoa antes da deficiência.
Ao longo do tempo, diversos termos foram usados para tratar pessoas com deficiência, mas o mais aceito pela Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU é "Pessoa com deficiência". No entanto, é importante usar esse termo ao falar sobre a característica da pessoa. Devemos lembrar que todos têm um nome e devem ser chamados por ele, já que a deficiência é apenas uma das características específicas ao ser humano, assim como qualquer outra. Espero que minhas respostas tenham esclarecido suas dúvidas.